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Não olhe para cima: Gestão, Platão e o cotidiano de todos nós

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Um dos filmes que vem ganhando as telas e os comentário de muitas pessoas é a obra “Não olhe para cima”, “Don’t look up” de Adam Mckay. Dentro de um enredo tragicômico-distópico o filme, que têm por protagonistas atores como Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Cate Blanchett, desenvolve um enredo já conhecido: O mundo vai acabar por conta de um asteroide!

Contudo, a produção, ao longo de sua trama, trabalha alguns temas muito curiosos e importantes: O primeiro deles é que há uma relação bastante explícita entre a forma como lemos os fatos e criamos com eles, regimes de certeza ou pseudoverdades. A segunda relação que se pode ver, orbita entre a psicologia das massas e a influência do manejo delas dentro da visão e do processo decisório daqueles indivíduos que as constituem e, por fim, e não menos importante, a relação entre conveniência e cálculo de custo-benefício.

Pois bem, mas o que isso tem a ver com gestão e com um filósofo que viveu a mais de 2050 anos? Muita coisa. Mas vamos explorar esta relação de modo mais acurado e por tópicos.

Imaginem você que ao entrar em uma empresa, cheio de ideias e expectativas, ao poucos, você comece a conviver com as pessoas e a expor as suas ideias e intuições de como fazer para que as coisas possam avançar. Em geral no início, as pessoas começam a achar aquilo interessante e “engraçadinho”, como quando no filme “Não olhe para cima” o cientista, representado por DiCaprio, começa a aparecer na TV sob o adjetivo de cientista “bonitão” e a vaticinar a fatalidade de um apocalipse próximo.

Contudo, com o passar do tempo, aquilo que era novidade e algo interessante passa a incomodar e a causar resistência dentro daqueles colaboradores que já estão acomodados ao modelo de operação da empresa. Então, aquilo que era promissor e agregava valor começa a receber resistências e mais resistências expressas em frases como: “Não dá”, “Não pode”, ou ainda em afirmações como: “nossa, se isso for feito vai levar anos para ser concluído”.

Para isso, Platão, a muito tempo atrás criou uma metáfora que ficou conhecida como mito da caverna, que apresentarei muito rapidamente. Em um de seus textos, o filósofo grego criou um diálogo entre o seu mestre Sócrates e o jovem Glauco. O velho Sócrates pede para que Glauco imagine um grupo de pessoas que viviam numa grande caverna, eles estavam presos por correntes e voltados para a parede que ficava no fundo do lugar.

Atrás dessas pessoas, existia uma fogueira e outros indivíduos transportavam objetos, que tinham as suas sombras projetadas na parede da caverna, onde os prisioneiros ficavam observando. Como estavam presos, os prisioneiros podiam enxergar apenas as sombras das imagens, julgando serem aquelas projeções a própria realidade.

Certa vez, uma das pessoas presas nesta caverna consegue se libertar das correntes e sai para o mundo exterior. A princípio, a luz do sol e a diversidade de cores e formas o assustam. No entanto, com o tempo, ele acabou por se admirar com as inúmeras novidades e descobertas que fez. Assim, com vontade de compartilhar a descoberta, ele volta para a caverna. As pessoas que lá estavam, entretanto, não acreditaram naquilo que ele contava e chamaram-no de louco. Para evitar que suas ideias atraíssem outras pessoas para os “perigos da insanidade”, os prisioneiros mataram o fugitivo.

O filme, “Não olhe para cima” e o Mito da caverna de Platão tem muito a ensinar para as empresas, principalmente para os seus líderes. Dentre as várias coisas podemos citar:

1 – Todo processo de inovação produzirá resistências e será sabotado consciente ou inconscientemente. Inovação é um conceito “legal” até que se implante. Por isso, é importante promover uma indução da inovação de forma orgânica e transetorial e não a centralizar em um setor ou área e muito menos em uma pessoa. A inovação é da organização como um todo.

2 – Ampliar o mindset e fazer ele passar de um modelo fixo para um de crescimento requer assumir a incerteza e a ambiguidade como métodos e isto pode produzir como movimento de resistência o negacionismo e o entrincheiramento das áreas e pessoas mais conservadoras e acomodadas. É o grupo que diz: “Não olhe para cima”, ou que mataram a personagem no mito platônico.

3 – Em contextos de grande resistência à mudança a tentação de todo inovador é buscar uma solução rápida para os problemas valendo-se das primeiras oportunidades descobertas. Cuidado esse pode ser apenas um canto de sereia e matar a inovação. Se ela, a inovação, não atingir o núcleo da cultura organizacional e os regimes de verdade ela não produzirá frutos, mas sim, um discurso mascarado.

Para concluir, o filme “não olhe para cima”, o mito da caverna de Platão e o cotidiano do nosso trabalho nas organizações vem nos ensinar que: 1 – A verdade das coisas não está dada, mas precisa ser conquistada; 2 – Que a mudança passa muito mais pela constância do que pela velocidade e 3 – que se não criar redes e capilaridade, a inovação produzirá apenas “bodes expiatórios” e não transformação. Além de olhar para cima é preciso apontar para lá.

Gillianno Mazzetto é co-founder da EiPsi

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